segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Adeus

Eu desisto, mesmo sem razões, porque nasci para desistir, e assim a vida segue seu curso tranquilo.
Tentei bater na porta tantas vezes, e muitas outras deixei cartas.
Não há coragem o bastante para pronunciar as flores, até porque nelas não se encontra mais a vida.
Mesmo que eu venha a encontrar as maçãs, elas não apagarão o tempo que estraçalhei.
Que o meu amor platônico descanse em paz, e leve com ele todas as suas pseudo memórias macias.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Madrugada

''Meus pêsames'', ela se pronunciou.
De alguma forma a Madrugada sabia da morte mais recente de minha primavera, e estava perceptivelmente feliz.
(Salafraia!)
Com toda sua sutileza vulgar, ela me apresentou uma vez mais o poço que mora em meu peito. Era profundo, lamacento e escuro. Uma brisa fria atingiu meu rosto e, de repente, a paisagem espacial a minha volta pareceu balançar à deriva de uma ventania invisível. Seu movimento brusco aos poucos formou um redemoinho. Tentei me afastar, mas lembrei de que não tenho controle de nada quando estou neste plano.
O estranho redemoinho estrelado começou a se aproximar demasiadamente. Voava sem freio como um cometa japonês, justamente em direção ao rombo que havia entre minhas costelas. Tentei fugir novamente, mas não obtive sucesso. Quando ele encontrou meu poço, deformou-se, e todas as estrelas que carregava despencaram e preencheram o local onde deveria se encontrar meu miocárdio. A fenda fechou e cicatrizou com as estrelas dentro, e de alguma forma ceifou parte de minha dor. Procurei um rosto para o qual pudesse dirigir um olhar ou sorriso de gratidão, mas não avistei nada além de uma escuridão enfeitada com pequenos pontos de luz.
E, de repente, como se um deus sem rosto tivesse estalado os dedos para quebrar a hipnose, a paisagem à minha volta se desintegrou. No momento seguinte eu estava olhando deveras confusa para o teto do meu quarto. Não tentei esclarecer o que havia acontecido, e senti uma imensa vontade de voltar para o vazio do espaço, de escutar o riso das estrelas.
Dentro de pouco tempo descobri o porque da fuga de minha dama. O sol. O sol que saldou os meus olhos a afugentou, e me fez odiá-lo uma vez mais.
Minha dama, volte. Minha Madrugada.
Madrugada que permite que eu aproveite cada segundo de silêncio.
Como um monstro que não pode ver a luz, eu gostaria que durasse para sempre.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Estrada Sobre Caminhar


O sol caminha sob meus pés, pois minha noite resolveu que não o afagaria. Minha noite permanece acima de minha cabeça, e o seu ciclo não se altera. A estrada caminha sobre os meus pés, e mesmo que ela insista em parar, o destino não deixa.
Prescindindo a Dona Confiança.
Ela prometeu ao meu eu de antemão que o deixaria ir, então julguei sensato abandona-la.
Prova de fragrâncias que se extinguem mais rápido do que a física pode afirmar. Cantarola em francês uma canção tão melancólica que desmantela os gaiteiros de baderna, que não encontrando semi-tom que sustente os versos, suicidam-se de baixo auto estima.
Tudo parece parado nesse mundo que gira, tudo parece girar nessa mente pacata.
A percepção está atrasada, meus sonhos degolados.
E eu daria todo o pouco que tenho para poder caminhar sobre a estrada, e fazer ela cessar o caminhar que faz sobre minha alma.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Rosa II

Ei, Rosa.
Rooosaaa?
Tomou teus remédios para a tua dor? Tomou teus remédios para angústia?
Primeiro me diga quem lhe trouxe para fora do poço, pois não deveria tê-lo feito.
Segundo me explique o porque de tua volta, ela de certa forma não me agrada de todo, nem faz sentido o bastante.
Pare, pare de rir. Sei que teu riso é tão falso quanto o resto de tuas palavras. Me sinto na palma de tua mão quando sorrides para mim, e isso me enjoa um pouco. Não podes mais brincar com minha dignidade, pois dela já perdi boa parte. Prometo querida, que se voltar a me contar fatos sem veracidade alguma, te lançarei ao poço de uma forma que tu nunca mais retornará à superfície.
Até porque não deverias de forma alguma ter retornado.
Fingir que acredito em ti é mais difícil do que acreditar em um futuro luminoso.

E repito, tu não deveria ter voltado.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Fim

Tempo, tempo
Tão longo
Esse livro, tão extenso
Será que eu não poderia pular para o final?

Contam boatos
De que a alegria existe
E coexiste com a nostalgia
Digo, isso saiu da boca de um bardo
Que aumenta a realidade
E recria a irrealidade

É tudo culpa da relatividade
É espaço, é tempo
É tempo, é espaço
Eles se devoram mutuamente
E evaporam em um espasmo

Tempo, tempo
Ele veio para o chá
Bebe o meu espaço físico, fuma o livro
Ele quer relaxar
Se matar
Relaxar

Basta!
Os anos se tornaram sombrios
Tão frio, tão frio
Será que eu não poderia pular para o final?