domingo, 16 de agosto de 2015

Sandra Rosa Madalena

Rosa...
Não se vá sem falar comigo.
Teu poço cresce?
Está doente de equívoco.
Tome teus remédios,
Folheie teus livros

Sei que queres abrigo.
Por que esmoreces assim?
Encontrei nos teus esboços
Sobre magos e médiuns
Rezas ocultas
Para te livrares de mim

Naquela manhã
Quando caístes inerte ao chão
Vi através do teu crânio aberto
Um sapiens sapiens qualquer
Cheio de quimeras
E dialetos secretos

Não haviam lótus ou ametistas
No teu jeito de morrer.
Tuas mãos quiromânticas
Jamais seguraram velas,
E teu sangue carmim
Não entoava canções singelas.

sábado, 15 de agosto de 2015

Silêncio

Símbolos maçônicos
Cravados na fonte
Posso avistar ao longe
Um carteiro esquecido por deus

Trepidando de cansaço
A passos largos
Tentava esquivar-se das sombras
Tropeçando no breu

Os olhares ausentes
Das estátuas de ninfas
Sufocam primaveras

Na ventania das horas ilícitas
Corta o negrume
O sibilar da maple tree

Pesada de silêncio
A bolsa do carteiro rompe-se
Então ele contempla
à luz laranjada do poste

Envelopes voadores
E correspondências em branco

O destino
Naquele momento
Foi percebido que calou-se há tempos
Acredita-se
Que tornou-se silêncio

E o silêncio
Tornou-se eterna noite
Com uma bala alojada na solidão
E outra no vazio

sábado, 5 de abril de 2014

Pesar

Meus sinceros pesares, minh'alma.
Declaro-lhe morta.
Não há mais brilho em tua face e sentido para continuares entre nós.
Não existem mais motivos para continuarmos com essa non-sense.
Eras uma alma tão escarlate, e foi-se tão cedo.
Lembro-me dos teus últimos dias onde a doença lhe usurpou tão cruelmente.

Tornou-se cruel.

Você tornou-se cruel com o vento, as árvores e o chão.
Pois o void preencheu sua cabeça e não havia mais espaço para non-sense.
Não havia espaço em teu colchão.
E o peso de tua cabeça ainda recortaria andar por andar até que encontrasse o núcleo terrestre e o ultrapassasse; até que enfim ultrapassasse as camadas do buraco negro que passeia no espaço plácido, e explodisse em um milhão de pedaços de coisa alguma. Em um milhão de pedaços de non-sense.

Sem a presença do meu interior, fui transportada para uma longa e alta montanha. Me encontro sobre ela e tenho dois abismos, um à direita e um à esquerda. No da direita vejo saídas com sinais luminosos, e no da esquerda onde estariam minhas loucuras e quimeras há uma fita cassete com apenas uma faixa.

20 anos blues.
Sou transpassada por uma longa espada.

Se ele (meu interior) não tivesse afundado, nós nos divertiríamos em um vórtice violeta cozinhando batatas e falando de trens vazios.
Nós nos divertiríamos tanto que eu o olharia nos olhos, com os meus olhos marejados, e lhe diria:
"Imagine, imagine só o quanto doerá quando eu cair da minha nuvem!"

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Paradoxo

Para que sonhar com o futuro (vejo-me perdida em campos) se os lúcidos não se arrependem por nunca terem sonhado (sim, posso contemplar o meu semblante de dúvida)? A natureza nos abraça, (sinto o cheiro de terra molhada) mas a cidade nos acolhe, caso seja cativada. Veja, veja o presente (viajo pelo tempo sem rumo, braços abertos para o desconhecido) ele não parece solucionável e brando? Para que se aventurar (vago observando cada detalhe minucioso) nos mistérios do futuro? Ele não lhe reservará (ter a solidão como companhia é lucro) nada além de devaneios, perdição.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Adeus

Eu desisto, mesmo sem razões, porque nasci para desistir, e assim a vida segue seu curso tranquilo.
Tentei bater na porta tantas vezes, e muitas outras deixei cartas.
Não há coragem o bastante para pronunciar as flores, até porque nelas não se encontra mais a vida.
Mesmo que eu venha a encontrar as maçãs, elas não apagarão o tempo que estraçalhei.
Que o meu amor platônico descanse em paz, e leve com ele todas as suas pseudo memórias macias.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Madrugada

''Meus pêsames'', ela se pronunciou.
De alguma forma a Madrugada sabia da morte mais recente de minha primavera, e estava perceptivelmente feliz.
(Salafraia!)
Com toda sua sutileza vulgar, ela me apresentou uma vez mais o poço que mora em meu peito. Era profundo, lamacento e escuro. Uma brisa fria atingiu meu rosto e, de repente, a paisagem espacial a minha volta pareceu balançar à deriva de uma ventania invisível. Seu movimento brusco aos poucos formou um redemoinho. Tentei me afastar, mas lembrei de que não tenho controle de nada quando estou neste plano.
O estranho redemoinho estrelado começou a se aproximar demasiadamente. Voava sem freio como um cometa japonês, justamente em direção ao rombo que havia entre minhas costelas. Tentei fugir novamente, mas não obtive sucesso. Quando ele encontrou meu poço, deformou-se, e todas as estrelas que carregava despencaram e preencheram o local onde deveria se encontrar meu miocárdio. A fenda fechou e cicatrizou com as estrelas dentro, e de alguma forma ceifou parte de minha dor. Procurei um rosto para o qual pudesse dirigir um olhar ou sorriso de gratidão, mas não avistei nada além de uma escuridão enfeitada com pequenos pontos de luz.
E, de repente, como se um deus sem rosto tivesse estalado os dedos para quebrar a hipnose, a paisagem à minha volta se desintegrou. No momento seguinte eu estava olhando deveras confusa para o teto do meu quarto. Não tentei esclarecer o que havia acontecido, e senti uma imensa vontade de voltar para o vazio do espaço, de escutar o riso das estrelas.
Dentro de pouco tempo descobri o porque da fuga de minha dama. O sol. O sol que saldou os meus olhos a afugentou, e me fez odiá-lo uma vez mais.
Minha dama, volte. Minha Madrugada.
Madrugada que permite que eu aproveite cada segundo de silêncio.
Como um monstro que não pode ver a luz, eu gostaria que durasse para sempre.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Estrada Sobre Caminhar


O sol caminha sob meus pés, pois minha noite resolveu que não o afagaria. Minha noite permanece acima de minha cabeça, e o seu ciclo não se altera. A estrada caminha sobre os meus pés, e mesmo que ela insista em parar, o destino não deixa.
Prescindindo a Dona Confiança.
Ela prometeu ao meu eu de antemão que o deixaria ir, então julguei sensato abandona-la.
Prova de fragrâncias que se extinguem mais rápido do que a física pode afirmar. Cantarola em francês uma canção tão melancólica que desmantela os gaiteiros de baderna, que não encontrando semi-tom que sustente os versos, suicidam-se de baixo auto estima.
Tudo parece parado nesse mundo que gira, tudo parece girar nessa mente pacata.
A percepção está atrasada, meus sonhos degolados.
E eu daria todo o pouco que tenho para poder caminhar sobre a estrada, e fazer ela cessar o caminhar que faz sobre minha alma.